quarta-feira, 18 de junho de 2008

Compulsão por Compras: quando o prazer vira um vício

Convenhamos, o ato de consumir é algo prazeroso, seja para atender as nossas necessidades básicas ou os nossos caprichos, que não são poucos. Mas infelizmente isso pode se tornar um vício, uma doença de difícil controle. E para piorar a situação, o comprador compulsivo tem dificuldades em reconhecer que já passou dos limites e que a família está "afundando" junto com ele.

Quem sofre do problema sente necessidade de comprar em quantidades exageradas, freqüentemente gastando muito mais dinheiro do que pode, caso contrário sente-se extremamente angustiado. Contrai dívidas, passa cheques sem fundos, utiliza vários cartões de crédito, sem o menor controle, gerando prejuízos materiais para si e colocando em risco o patrimônio familiar.

Muitos entram em falência, divorciam-se e podem apresentar outros quadros patológicos associados como a depressão. Além disso, o tempo despedido, pensando em compras e indo atrás dos objetos de consumo pode destruir com sua carreira profissional, comprometer sua vida acadêmica e social.

Cerca de 5 a 6% da população sofrem do problema e é mais freqüente entre as mulheres, na faixa dos 30 a 40 anos. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que 90% dos portadores do transtorno eram do sexo feminino. Porém, as últimas pesquisas americanas demonstram que os compradores compulsivos masculinos vêm aumentando assustadoramente, equiparando-se às do sexo feminino. Mesmo assim, as mulheres, em sua maioria esmagadora, ainda são as que freqüentam os consultórios psiquiátricos e psicológicos.

Atualmente o problema atinge pessoas cada vez mais jovens (por volta dos 18 anos), idade em que os pais costumam presentear a maioridade de seus filhos com contas bancárias e acesso fácil a talões de cheque e cartões de créditos. É muito comum, hoje em dia, vermos jovens endividados, vítimas das facilidades de crédito e das campanhas publicitárias.

Além dos apelos do mercado, as facilidades de compras pela internet e canais de televisão voltados exclusivamente para o consumo também são fatores que propiciam e exacerbam o problema.

Infelizmente muitos destes jovens (ainda estudantes) e dependentes financeiramente se vêem implicados com o SPC e com seus nomes sujos. Os mais favorecidos, normalmente, são socorridos pelos próprios pais. Porém, os menos privilegiados financeiramente não têm perspectivas de quitarem seus compromissos, recorrendo a empréstimos e agiotas, o que só agrava o problema. Mesmo assim, eles acreditam que um dia vão conseguir liquidar suas dívidas e continuam comprando a prazo ou pagando apenas o mínimo de seus cartões de crédito.

Produtos como maquiagem, jóias, roupas, bolsas, sapatos e perfumes são os preferidos pelas mulheres. Já os homens têm como foco os celulares, eletroeletrônicos, motos e carros.

Não podemos negar a grande influência que nossa cultura consumista exerce sobre este transtorno, no entanto também é inegável o componente afetivo representado pelo vazio interno que os compradores compulsivos vivenciam. Via de regra, a compulsão por compras envolve dois fatores: 1) Necessidade de bens materiais, com o intuito de alcançar a "felicidade", que confere poder e status; 2) Como ferramenta para melhorar a auto-estima e sentir-se bem, preenchendo ilusoriamente a carência afetiva.

A compulsão por compras é mais grave do que se pode imaginar. É tal qual um vício em drogas ou jogo. Quem sofre do problema necessita de tratamento adequado, que envolve tanto acompanhamento médico quanto psicológico.

É preciso cortar o ciclo vicioso, uma vez que a compra compulsiva é antecedida por um desejo incontrolável e, no ato da compra em si, o indivíduo vivencia um grande sentimento de alívio (prazer), seguido de culpa e remorso pelo fracasso frente à compulsão. Assim, novamente o compulsivo é tomado por uma sensação de ansiedade muito grande, que só é aliviada com novas compras.

É comum que as pessoas portadoras do problema comprem coisas absolutamente desnecessárias ou roupas repetidas (de várias cores), sejam elas caras ou não, somente pelo prazer de comprar ou para aliviar suas ansiedades. Em casos mais graves, acumulam quinquilharias, bugigangas e caixas em seus armários, quartos, salas, até perderem totalmente os espaços dentro de suas próprias casas.



*Dra. Ana Beatriz B. Silva é médica psiquiatra, conferencista, escritora, professora Hororis Causa da UniFMU (SP) e diretora das clínicas Medicina do Comportamento (RJ e SP).

Fonte: http://www.medicinadocomportamento.com.br/

0 comentários: